25.11.10

"Desde a antiga China conta-se uma história que narra a fuga do cavalo de um camponês. Ao ser consolado pelos vizinhos pelo infortúnio, ele simplesmente responde, 'Talvez'. No dia seguinte, o cavalo volta com mais seis cavalos selvagens. Mais uma vez, os vizinhos batem à sua porta, dessa vez para manifestar a surpresa e a alegria pela sua sorte. De novo, ele responde, 'Talvez'. Mais um dia se passa e seu filho quebra a perna ao tentar montar um dos cavalos selvagens. Os vizinhos voltam para prestar sua solidariedade. No entanto, como das vezes anteriores, ele simplesmente responde, 'Talvez'. No dia seguinte, oficiais militares vão à fazenda para convocar o jovem para o serviço militar. O jovem é liberado por causa da perna quebrada. Exultantes, os vizinhos se reúnem para parabenizá-lo pelo desfecho positivo da história, e, mais uma vez, o camponês diz, 'Talvez'.


O camponês, um clássico taoísta, sentia a vida como parte de um processo de crescimento muito maior, que tinha sua própria forma circular e permitia a interação das forças opostas. O ritmo do tempo era o veículo desse desenrolar; portanto, o indivíduo sabia que não existia algo como uma atividade final e, por isso, só lhe restava suspender julgamentos e deixar o Tao fluir espontaneamente.


Diferente das abordagens ocidentais, a perspectiva taoísta chinesa enxerga a influência circular em tudo, a Unidade fluindo através de tudo. É algo totalmente diferente da noção newtoniana, onde o universo foi gerado graças a um ato original da criação e tem a permissão de continuar por suas próprias engrenagens, independente do Criador. Conseqüentemente, isso faz da realidade uma seqüência de acontecimentos mecânicos, trabalhando em uma estrutura infinitamente complexa de seqüências causais separada, aginda e interagindo através da história. Nós, do Ocidente, ainda somos impulsionados por essa visão mecanicista antiquada, sofremos de uma visão crônica limitada que nos condiciona a procurar causa e efeito em todos os aspectos da nossa vida e do trabalho. Isso contribui para uma expressão artística irreal e para noções separatistas do nosso lugar de realidade. Portanto, não conseguimos enxergar os padrões de interação como inerentes ao modelo único das conexões taoístas.


O que chamamos de taoísmo reflete esse modelo único, pelo fato de ter tantas formas infinitas, tantas facetas, uma atividade tão singular e dinâmica, uma base filosófica tão profunda, um passado alquimista e mágico tão fantástico e bizarro, que virtualmente ninguém tem autoridade para defini-lo. Ele incorpora a sabedoria e as descobertas de milênios, desde as práticas curandeiras e místicas do legendário Imperador Amarelo do terceiro milênio a.C. à filosofia documentada há quase dois mil e quinhentos anos nas obras dos mestres Lao Tse e Chuang Tse, até às descobertas dos iogues absorvidos nas artes do rejuvenescimento, no prolongamento da vida e no alcance de um dos vários tipos de imortalidade. Para os místicos, a procura pela união com o Tao Sublime significava o cultivo de práticas originadas nos estudos de ioga e da filosofia, assim como na preparação do corpo e da mente para a coerência e a co-criatividade com a Natureza e com a Unidade. Vários taoístas envolvem-se com esse modelo integral de ensinamentos e práticas."


(Dra. Jean Houston, Prefácio de 'O TAO DA VOZ', de Stephen Chun-Tao Cheng)

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