2.8.07

O camaleão MTV

De certa forma, pode-se dizer que os clipes de música surgiram com a primeira transmissão da Music Television, a MTV, no dia 1º de agosto de 1981. Era uma proposta revolucionária: uma emissora voltada para o público jovem com uma programação fundamentada em música. São 26 anos de história e muita, muita coisa mudou...

(matéria de Fabio Massalli publicada n’O Diário do Norte do Paraná, em 1º de agosto de 2007)

Certamente, a MTV não inventou o videoclipe. Antes da emissora, em meados dos anos 80, muitos artistas já usavam uma linguagem parecida para divulgar suas músicas através da televisão -- que o digam os Beatles e David Bowie --, mas, certamente, o formato se popularizou através do canal norte-americano que chegou ao Brasil em 1990.


Com a popularização da MTV, os clipes se tornaram uma categoria à parte no interesse dos jovens. O visual era quase tão importante quanto a música. E, a partir dos anos 80, os próprios músicos tiveram que se adaptar. Quem quisesse fazer sucesso tinha que estar na MTV. Quem compreendeu de imediato essa nova realidade se transformou em ídolo quase que da noite para o dia. Naquela época Michael Jackson ainda era negro e quebrava recordes dançando ao lado de zumbis, e Madonna ainda se sentia like a virgin.

Durante muito tempo era praticamente obrigatório para os músicos terem videoclipes de suas principais músicas na MTV para fazerem sucesso. Foi um fenômeno que atingiu desde os então novatos, como U2, Duran Duran, A-Ha, até monstros consagrados do rock, como Queen, Rolling Stones e Paul McCartney.

Muitos diretores também mergulharam nessa fonte, se especializaram e se lançaram produzindo e dirigindo os vídeos para as novas estrelas que surgiram com a MTV. Eles criaram uma linguagem própria, com muita velocidade na tela. É o caso de David Fincher, diretor de “Zodíaco” e “Clube da Luta” e que também assinou videoclipes de Madonna como “Vogue”.

Mas se no “Thriller”, de Michael Jackson (um dos símbolos do videoclipe), em que a mocinha consegue escapar dos mortos-vivos que a perseguiam, na MTV os próprios clipes não resistiram ao passar dos anos. Lentamente, a Music Television deixou de ser Televisão de Música.


É verdade que fazia muitos anos que a MTV não era apenas um canal que exibia apenas clipes de música. A emissora exibia, por exemplo, desenhos que primavam pelo politicamente incorreto ou pela sátira. Muitas dessas animações extrapolaram a telinha da TV e entraram de sola no cinema e na própria cultura popular. É o caso da aloprada dupla Beavis & Butt-Head e das crianças boca-sujas de South Park, que ganharam, cada um, seu longa de animação.

Mas a metamorfose sofria pela MTV, no melhor estilo do camaleão David Bowie, não se limitou aos desenhos animados que os adolescentes adoravam e os pais abominavam. A emissora passou a investir em programas dos mais variados estilos, desde reality shows até as mais variadas versões de programas de auditório.

Na atual grade da programação da MTV Brasil, por exemplo, apenas três programas trazem clipes: MTV Lab, MTV 5 e Yo! MTV. O Disk MTV, que era uma espécie de parada dos clipes mais pedidos, simplesmente desapareceu. Programas ligados diretamente à música também não são muitos: Especial MTV Estúdio Coca-Cola e Rally MTV.

Sem qualquer ligação musical são programas no total, muitos exibidos em horários nobres. Há espaço para concurso de modelos, programas de namoro (inclusive com a participação de casais homossexuais), debate sobre futebol, transmissão de campeonato amador entre times formados por músicos, tira-dúvidas sexual, humorísticos, satíricos, programas de entrevistas, jornalismo e reportagens sobre música e vários reality shows importados da MTV norte-americana.

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Na atual grade de programação da MTV está um programa que deve causar pesadelos em alguns astros da mídia e no público mais conservador. Em uma animação norte-americana extremamente violenta chamada Celebrity Deathmatch celebridades duelam em um vale-tudo até a morte com muito, muito sangue. Os duelos já trouxeram confrontos como Britney Spears vs. Christina Aguilera, 'N Sync vs. Backstreet Boys e Axl Rose vs. Slash, entre outros.

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A MTV Brasil hoje tem dois músicos polêmicos no seu quadro de VJs: João Gordo e Lobão. Lobão, inclusive, durante sua briga com as gravadoras, criticou muito o Acústico MTV, antes de ele mesmo gravar um disco com esse formato.


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Um dos reality shows de maior audiência da história da MTV foi The Osbournes. A séria mostrava o dia-a-dia da família desajustada do roqueiro Ozzy Osbourne, ex-vocalista do Black Sabbath.


Internet foi um dos fatores da mudança

Os estudantes de jornalismo César L. Miguel e Alexandre Gaioto, que produzem o Programa Garagem sobre música independente na Rádio Cesumar, acreditam que um dos fatores que levaram a essa mudança na programação da MTV foi a internet. Eles fazem parte da geração que cresceu assistindo à MTV. “A MTV perdeu a força política. Pela internet, as pessoas não precisam esperar a programação da emissora para verem e ouviram o que gosta ou descobrir novas bandas”, diz Gaioto. “Agora o pessoal pode ver o clipe que quiser na internet e não o que o jabá põe na MTV”, diz Miguel, que toca na banda Três Centavos.

Para eles, um exemplo de independência que as bandas passaram a ter em relação à MTV é o Arctic Monkeys, que lançou dois discos e se torna conhecido através da internet, sem ter suas músicas tocadas na emissora. “A MTV perdeu espaço e popularidade e está se reformulando, seguindo o padrão da MTV gringa. Hoje, uma banda nova tocar na MTV ajuda muito, mas não quer dizer que vá tocar na rádio e fazer sucesso. A influência é cada vez menor”, diz Miguel.

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